Fundador das plataformas de educação à distância e de consultoria em transformação digital, Samba Tech e Samba Digital, Gustavo Caetano é um dos nomes mais influentes em tecnologia do Brasil, segundo o Linkedin. Ele também é autor do best seller Pense Simples, publicado pela editora Gente em 2017 e integra conselhos administrativos de grandes companhias como C&A, Baterias Moura e Instituto Ayrton Senna – além de ser embaixador da reserva na Trybe, Localiza, Algar e Iugu.
Nesta entrevista ao Seja Relevante, ele revela que, mais do que simples, a inovação serve para resolver problemas. Mas só é bem sucedida quando alcança escala. Acompanhe.
Há relação entre desenvolvimento social e inovação?
Eu acho que estão extremamente conectados, porque a inovação precisa de um propósito. O que a gente já percebeu, e digo isso como empreendedor e como membro de conselhos administrativos de empresas, é que, se as pessoas não souberem o porquê estão fazendo aquilo, as chances de dar certo são pequenas. As pessoas precisam saber para qual propósito trabalham. E isso é a chave para a inovação em vários tipos diferentes de negócios, indo desde uma ONG, como a Gerando Falcões, que inova para trazer conhecimentos para as favelas brasileiras, até os mais variados tipos de organizações privadas.
Algumas das pessoas mais geniais que eu conheci não trabalham mais só por dinheiro. Elas querem trabalhar por algo que sintam, que se orgulhem de fazer parte, que gere impacto positivo. Nesse sentido, é importante dizer que, para gerar impacto, é preciso alcançar escala.
Como assim?
Não se pode falar que gera impacto positivo atingindo dez pessoas. Por isso, a minha resposta anterior tem de estar conectada ao pensar grande. Mesmo que seja um projeto social, o propósito tem de estar conectado ao pensamento de como gerar impacto em mais gente possível. Em uma organização, como o iFood, é a mesma coisa. E aí o impacto positivo pode estar em melhorar a vida das pessoas, que não precisam cozinhar todos os dias e podem passar mais tempo com a família, ou mesmo de quem está desempregado e consegue renda prestando o serviço de delivery. Enfim, é possível pensar em muitas coisas nessa linha.
Como se alcança escala?
Primeiro é preciso validar se aquela hipótese de negócio é verdadeira ou não. A escala é um segundo passo, pois nada adianta escalar algo que não tem fit. É preciso entender se há um problema a ser resolvido e se aquele problema ainda continua, pois algo que era há dez anos atrás, não necessariamente continua sendo. E para validar essa hipótese depende de muita experimentação, de testes e erros. Por isso eu falo que as empresas precisam dedicar um espaço para testar o desconhecido.
Validando a hipótese, e isso acontece em um universo pequeno, aí sim é hora de ampliar, de escalar, criando processos para que, aquilo que foi feito em pequena escala, possa ser feito da mesma forma em uma escala maior.
O Seja Relevante entrevistou recentemente o filósofo Mário Sérgio Cortella e, na preparação para a entrevista, ele disse que precisava usar máscara porque a sua atividade não tinha substituto. Serviços intelectuais, como o dele, podem ser escalados?
Geralmente, negócios baseados em puro serviço, como um médico ou um professor, tem mais dificuldade de escala, porque depende de uma pessoa. Mas, se utiliza tecnologia é possível sim. O próprio professor Cortella, por exemplo, ganha escala quando faz um curso online que atinge milhares de pessoas. Em outras palavras, a tecnologia permite que ele leve o serviço dele a vários lugares que ele não precisa estar presencialmente.
Isso começou com os Beatles, que começaram a ser demandados a tocar em vários lugares do mundo e, como não conseguiam estar em todos, ao mesmo tempo, produziram videoclipes para serem exibidos nos cinemas locais. Então, é preciso buscar tecnologias que ajudem a escalar, e essas tecnologias podem ser desde uma conta no Instagram até desenvolvimentos mais complexos. Uma escola de culinária vegana em Araguari, minha cidade natal em Minas Gerais, por exemplo, não conseguiria mais de 50 alunos para aulas físicas. Se o curso for online, porém, todos os veganos do Brasil e alguns de outras partes do mundo passam a ser potenciais clientes.
Outra forma de escalar serviços é com mais gente. Eu mesmo tive uma empresa de serviços que saiu de zero para 1,5 mil funcionários até ser vendida. É o típico exemplo de escala com pessoas.
Você já falou de inovação e de como escalar negócios para torná-los bem sucedidos. Mas como enfrentar as dificuldades sociais e burocráticas naturais do Brasil para que isso não atrapalhe a longevidade das organizações?
Eu costumo ter um olhar mais positivo sobre as coisas. Sempre penso que, se eu estou passando por essa dificuldade estrutural, como a burocracia do Brasil, o meu concorrente também está. Então isso já me nivela. É óbvio que tudo é mais difícil para quem está no começo. Eu também comecei a empreender do zero, montando o CNPJ, contratando contador, etc. Lembro-me que, ainda no começo, dos 50 funcionários que tínhamos, uns dez trabalhavam na contabilidade e administração. Em outros países, como os Estados Unidos, se tem uma pessoa para isso e olhe lá. Então isso é sim custoso, mas, como disse, é para todos os brasileiros. Mas, olhando por outro lado, o fato de estarmos em um país desigual e burocrático, também representa oportunidade. Onde há grandes problemas há grandes oportunidades e os empreendedores precisam ter essa visão.
Conheço empreendimentos que focaram nessa dificuldade contábil, burocrática, como a Contabilizei e a Conta Azul, que entenderam o problema e criaram propostas para minimizá-lo e hoje valem milhões de dólares.