Líder do programa de Liderança do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), o executivo Ronaldo Ribeiro apresenta uma visão holística do ambiente corporativo. Parafraseando o PhD Subi Rangan, ele resume que “precisamos evoluir da performance (orientada apenas para resultados) para o progresso (que traz consigo também o impacto social positivo). E a ponte entre os dois é o ESG”. De forma prática, Ribeiro – que é CEO da Farmax – tem a missão de ajudar a implementar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 (ODS-3), da ONU, que visa levar saúde e bem-estar social para todos os habitantes do planeta.

Nesta entrevista, ele conta como está fazendo isso em conjunto com a sua atuação executiva. E mais: lembra como o seu histórico pessoal é importante e interfere ainda hoje nessa jornada. Acompanhe.

No ano passado, você se tornou líder de ImPacto do Pacto Global ONU. Pode explicar o que isto significa, a importância e quais funções lhe competem? 

O programa Liderança de ImPacto, do Pacto Global da ONU, tem por objetivo atrair, engajar e empoderar os líderes empresariais para acelerar a entrega dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), estabelecidos pela entidade. Em 2023, com entusiasmo e honra, passei a integrar o rol de executivos que promovem a inserção dos temas de impacto ESG dentro da companhia e atuam perante a sociedade. No meu caso, sou um líder que representa o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 3), focado em saúde e bem-estar. 

E quais são as suas responsabilidades?

Fazendo parte deste grupo, assumo a responsabilidade de endereçar, nos fóruns em que participo e no meu dia a dia corporativo,  um importante objetivo ambicionado para 2030: garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as pessoas, de qualquer idade.

Como você avalia que as corporações estão direcionando esforços para promover o bem-estar social? O que pode ser melhorado e o que já avançou?

Acredito que as empresas são um reflexo do tempo e do contexto em que estão inseridas, sendo diretamente impactadas pela evolução da sociedade. Hoje, as corporações navegam em um ritmo veloz de mudanças e instabilidade, enquanto se esforçam para atender o mercado e garantir competitividade. Nesse mesmo cenário, as pessoas estão cada vez mais conscientes da importância de valores fortes, da preservação de si e do outro, do respeito às diversidades e do papel relevante das organizações para geração de valor à sociedade, de forma geral.  

Como a saúde está atrelada a isso?

O tema da saúde, em sua forma integral, nos pilares físico, mental e emocional, é um dos mais urgentes. Cada vez mais, as empresas precisam falar do assunto, promover discussões e ocupar esse espaço de confiança que vem sendo atribuído a elas. Essa mentalidade organizacional, felizmente, tem evoluído. Temas que anteriormente eram tabus, agora começam a ser tratados com o respeito que merecem. Mas há espaço para muito mais. Precisamos equilibrar a jornada de trabalho, entender que ambiente saudável gera resultado, formar líderes ambidestros (que tenham foco nos negócios e nas pessoas).  

Pode nos contar um pouco do seu histórico à frente de questões que envolvem a sociedade e, se possível, relacionar como isto se está conectado com a sua carreira executiva?

Vejo uma forte relação entre meu histórico, questões sociais e a minha carreira executiva. Para iniciar a resposta, considero importante contar um pouco de quem sou, antes de falar da cadeira corporativa que ocupo atualmente. Eu nasci no interior de Minas Gerais, na cidade de Lagoa Santa, e sou filho de pais comerciantes, de origem simples. Aprendi muito com eles! E começa aí a minha perspectiva sobre as questões sociais e a carreira executiva: os meus valores, a forma como lido com as pessoas e a maneira como vejo a sociedade. 

A minha trajetória de mobilidade social, sem dúvida, tem a educação como fator-chave. Meus estudos me deram repertório e tornaram possível que eu trabalhasse em uma multinacional e traçasse a minha carreira vivendo a cultura de cinco países diferentes. Aprendi muito sobre diversidade, culturas, respeito a pensamentos e opiniões. Enfim, aprendi a ouvir. 

Escolhi, depois de alguns anos, retornar ao Brasil para que minhas filhas pudessem vivenciar laços familiares mais amplos que apenas mãe e pai. Considero fundamental na educação dos filhos que eles aprendam sobre amor, pertencimento e origem. 

Tenho clareza de que ocupo hoje uma posição que me permite influenciar. No grupo que lidero, buscamos gerar impacto social positivo em cada empresa. A Farmax tem o foco na base da pirâmide social. O propósito de levar saúde, beleza e bem-estar para todas as pessoas, por meio de produtos de alta qualidade com preço acessível. 

A marca Negra Rosa parece carregar esse propósito…

Exatamente. Negra Rosa é uma marca de beleza feita por – e para – mulheres negras. Já a Sanavita tem o foco na saúde holística feminina, respeitando a individualidade e necessidade de cada mulher. Parafraseando o professor Subi Rangan, precisamos evoluir da performance (orientada apenas para resultados) para o progresso (que traz consigo também o impacto social positivo). E a ponte entre os dois é o ESG. O nosso grupo de empresas tem isso no coração de sua estratégia, e é nisso que pauto a minha carreira. 

Você disse que a educação foi a sua ferramenta de mobilidade social. Você acredita que a evolução educacional está relacionada com as evoluções sociais necessárias? E que exemplos poderia nos dar a respeito?

Entendo que a educação é uma das ferramentas mais potentes de mobilidade social! A evolução da sociedade passa por evolução técnica e intelectual e é responsabilidade de todos nós, em iniciativas públicas e privadas, reconhecermos os gaps existentes em nossa estrutura educacional e os meios que estão ao nosso alcance para transformar esta realidade para o futuro. A parceria da Farmax com a graduação da Fundação Dom Cabral é um exemplo de como empresas podem promover essa amplificação e aceleração da educação, para garantir o futuro do trabalho. Apoiar na curadoria de conteúdo, sinalizando aos futuros profissionais o que o ambiente corporativo e a sociedade esperam deles, pode tornar a jornada acadêmica ainda mais alinhada ao futuro, que se desenha urgente de profissionais completos, humanos e insurgentes. Além disso, acreditamos fortemente no apoio por meio de bolsas de estudo. É uma das maneiras que organizações têm de permitir o sonhar e reparar alguns danos históricos de desigualdade. A jornada é longa, mas é possível a partir do momento em que damos o primeiro passo. Acredito que esse Brasil melhor no futuro só será possível se destravarmos o potencial de milhões de brasileiras e brasileiros da base da pirâmide social, e isso acontece por meio da educação.