A ideia do forecasting na gestão empresarial, que seria olhar para o futuro baseado em dados do presente, está sendo superada pelo novo conceito de backcasting, que é uma técnica de mudar o presente para prepará-lo para o futuro. O conceito foi apresentado por Carlos Arruda, professor de Inovação e Competitividade e Gerente Executivo do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral (FDC), e Pedro Vergueiro, Gerente de Educação Executiva na FDC.
Carlos Arruda explica que o backcasting representa uma agenda provocadora, porque lida com um grau muito alto de incerteza, uma vez que “o futuro é incontrolável e as chances dele acontecer de maneira diferente da prevista são muito prováveis”. Como fazer, então, para por esse conceito em prática?
Lideranças devem criar as mudanças, diz ‘backcasting’
“A ideia que passamos para as lideranças é que a empresa não vai esperar o futuro acontecer, não vai ser uma empresa capaz de responder às mudanças, mas vai criar as mudanças”, afirmou Carlos Arruda, durante o podcast ‘O que aprender para liderar na incerteza’, no site The Shift.
O professor acrescentou que o novo conceito prevê uma reflexão constante sobre o futuro – em parte, desconectado do presente – a fim de orientar a organização sobre os investimentos que deverão ser feitos e a análise financeira e empresarial necessária. Essa reflexão pode ser bem ilustrada à luz da seguinte pergunta: “O que eu devo fazer hoje para estar pronto quando o futuro chegar?”.
‘Backcasting’ no cenário de captura de carbono
Carlos Arruda exemplificou como é a chamada construção do futuro. Ele afirma que o backcasting está ocorrendo na área de captura de carbono, algo que ainda é embrionário, mas que certamente terá um papel fundamental no futuro.
“Algumas empresas dizem que não vão esperar a consolidação de uma economia de carbono no futuro, vão investir nisso já. Então, há milhões de reais e dólares sendo investidos no Brasil em iniciativas para criar uma economia de carbono”, explicou, acrescentando outro exemplo, o de empresas que investem em startups, em setores adjacentes ao seu negócio principal, para se preparar para lidar com possibilidades futuras.
O professor Pedro Vergueiro lembrou que o novo conceito de backcasting é um dos temas discutidos hoje no Programa de Gestão Avançada (PGA) da FDC, do qual ele e Carlos Arruda são coordenadores técnicos. O programa existe desde 1989 e é conduzido em parceria com a Insead, escola de negócios internacional de renome, com sede na França. Sobre o backcasting, Pedro comentou que quanto mais pessoas souberem o que é o conceito, mais ele tem chances de ser aplicado e aperfeiçoado.
“É preciso criar um ambiente para as coisas acontecerem. Então, dentro de uma empresa, quanto mais gente souber o que é o backcasting, melhor. Porque é muito difícil vender o futuro dentro de uma organização”, pontuou.
O que mais preocupa as empresas hoje
Segundo Pedro, dentre as maiores angústias demonstradas pelos executivos no PGA hoje está justamente o futuro. Por isso, o programa inclui uma mentoria que reúne grandes lideranças de vários setores produtivos, que ajudam os alunos a pensar o futuro de suas organizações.
Já o professor Carlos citou, dentre as preocupações trazidas pelos executivos, a pauta digital, que é tratada com abordagens à segurança cibernética, Inteligência Artificial e realidade virtual, e a pauta ESG (Environmental, Social and Governance).
Por isso foi criado um módulo totalmente ligado à agenda ESG. Foram feitos vários estudos de caso. Segundo Carlos, há exemplos de empresas que adotaram premissas ESG e evoluíram significativamente, com retenção de colaboradores e clientes, por terem adotado compromissos ambientais e sociais.