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Impacto positivo e legados sustentáveis
As mudanças climáticas e ecológicas no planeta estão gerando uma manifestação individual, que tem sido chamada de ecoansiedade. O tema foi abordado no episódio #27 da série de podcastas FDC Debates, que entrevistou a professora da FDC, Anahid Roux-Rosier. A docente explica que “a ecoansiedade nasce da conscientização da alteração ecológica do planeta e, ao mesmo tempo, da ausência de resposta global para enfrentar esse desafio”.
Embora a ecoansiedade nasça de um sentimento de angústia, a professora destaca que não se trata de uma patologia ou doença mental. Na ansiedade pura, vista tradicionalmente, é difícil identificar a causa exata de uma angústia. Já a ecoansiedade é uma questão ligada à crise climática, de forma simples de definir e identificar. É uma situação que gera uma sensação de impotência e de frustração, a qual surge em consequência de uma ação insuficiente dos poderes e da falta de consciência em muitos setores da população. Envolve também o medo das consequências que os problemas vão gerar no futuro, do ponto de vista ecológico e político.
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Problema precisa de resposta coletiva
Anahid Roux-Rosier afirmou que os jovens tendem a individualizar o problema ecológico e climático. “Eles acham que é sua responsabilidade individual”, disse a professora. “Antes dos jovens, foram os cientistas os primeiros a sofrer essa pressão”, acrescentou. Mas a docente defende que o problema precisa de uma resposta coletiva.
“Temos que nos perguntar em que mundo queremos viver. Essa pergunta pode ser um recurso para imaginar, coletiva e politicamente, um outro mundo. As empresas têm algo a fazer, os indivíduos têm alguma coisa a fazer. Mas tem que ser uma parceria global, entre os estados, as empresas e os indivíduos. Se cada um acredita que vai liderar esse desafio sozinho, não vai funcionar”, alertou Anahid Roux-Rosier.
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A docente informou que no Brasil, dentre os jovens de 16 até 25 anos, 84% se dizem “preocupados” com o estado do planeta e 59% se dizem “muito preocupados”. “Não é só uma questão individual. É uma questão coletiva também”, disse a professora. Anahid destacou que, em paralelo à ecoansiedade, surgiu ainda a “solastologia” ou “solastalgia”, termo que designa uma sensação de perda diante de transformações ou mudanças ambientais. Trata-se de um sentimento similar à ecoansiedade, mas com foco no que já foi perdido, ou seja, é uma aflição profunda pelo que se foi.
Ecoansiosos vivenciam perdas do planeta
Para exemplificar que os ecoansiosos não estão sofrendo em vão, Anahid cita uma série de perdas ecológicas e climáticas, como o aquecimento global. O ano de 2020, com uma temperatura superior em cerca de 1,25ºC em relação ao período pré-industrial, ocupou o primeiro lugar dentre os anos mais quentes, desde 1850. Desde o final do século 19, a temperatura média global aumentou pelo menos 1ºC e esse aumento aparece após a década de 1975, com a taxa de 0,15ºC a 0,20ºC por década.
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Há ainda o problema de poluição das águas, do solo e da atmosfera, que pode causar a extinção em massa na biodiversidade, por exemplo. Há uma queda de 69% de vertebrados selvagens em comparação a 1960, e de 25% dos insetos no mundo. Em algumas partes da Europa, são menos de 80% de insetos. Três quartos das populações de peixes de água doce já desapareceram, segundo a professora.
A docente, juntamente com os professores Ricardo Azambuja, da Rennes School of Business, e Sophie Raynaud, da NEOMA Business School, assinam artigo detalhando a ecoansiedade no site Monde des Grandes Écoles et Universités. O artigo afirma que a crise ecológica contemporânea, vista pelo prisma da ecoansiedade, contribui mais para gerar sentimentos de impotência do que para iniciar uma reflexão ecopolítica coletiva, que é necessária.
Confira aqui o podcast na íntegra.