Apesar do reconhecimento da Inteligência Artificial (IA) como impulsionadora de transformações econômicas e históricas, o entendimento das várias modalidades da tecnologia, assim como de sua utilidade em cada contexto, ainda são desafios em vários setores e empresas. Segundo o Estudo sobre Inovação e Inteligência Artificial Aplicada realizado pela Meta e pela Fundação Dom Cabral (FDC), enquanto executivos de 95% das companhias consideram a Inteligência Artificial “essencial em suas operações” e 76% a classificam como “extremamente importante” para o futuro de seus negócios, apenas 14% têm metas bem estabelecidas para os projetos e 12% definiram os orçamentos.
O Meta DXi (Digital Transformation Index) visa mapear a evolução digital das empresas brasileiras. Para medir e qualificar a adoção corporativa de IA, foram entrevistados 200 CEOs e executivos, de empresas de diferentes segmentos e tamanhos, que juntas representariam 7% do PIB. Nesta edição, se constatam tanto as abordagens incrementais – de executar melhor (mais rápido, barato e seguro) o que já se fazia – quanto transformações mais radicais na criação de valor.
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“O processo de aceleração na adoção da IA é crescente, mas numa velocidade aquém do que precisa ser. O desafio é seguir acelerando a expansão, tanto para as organizações que ainda veem a IA só como uma ferramenta de eficiência, quanto para as que já a utilizam como um motor de inovação”, observa Hugo Tadeu, professor e diretor do Núcleo de Inovação, IA e Tecnologias Digitais da FDC.
Eficiência operacional se destaca como o principal objetivo do uso de IA nas empresas para 80% dos respondentes. “O foco está na agenda operacional, na busca por resultados imediatos e devido ao custo de capital em fazer negócios no Brasil”, resume Tadeu. Ele considera esse pragmatismo uma oportunidade importante. “Muito além do entendimento sobre o hype tecnológico, torna-se relevante aplicar as tecnologias digitais em projetos e comprovar resultados. Do contrário, a alta liderança não tangibiliza esta agenda como real. Nesse sentido, a importância de as equipes de tecnologia adotarem soluções simples, viáveis e alinhadas ao planejamento estratégico seria absolutamente determinante para o sucesso da IA”, afirma.
Ao mesmo tempo em que ratifica a importância de iniciativas objetivas, com ROI fácil de aferir, os autores do estudo enfatizam a necessidade de amadurecer a visão de planejamento financeiro, governança e estratégia. “Para extrair valor real dessa tecnologia, é necessário ir além do investimento e repensar modelos de negócio, cultura organizacional e processos internos”, consta no relatório. O estudo sugere que o primeiro passo para implementação da tecnologia é definir com clareza as metas e orçamentos, criando um roadmap estruturado, com métricas. Além disso, deve existir um investimento em conhecimento especializado, como parcerias com consultorias que podem acelerar a adoção de IA e superar as lacunas técnicas.
Distanciamento das lideranças
O próprio conceito de IA varia, principalmente conforme o setor da empresa. As principais definições – “tecnologia que aprende com a experiência”, “processamento de grandes volumes de dados”; “automação de processos”; “mecanismos de tomada de decisão”; “desenvolvimento de robôs inteligentes”; e “sistemas que simulam a inteligência humana” – mostram que sob o guarda-chuva de IA se misturam ML, visão computacional, análises preditivas, GenAI e outras modalidades da tecnologia.
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O estudo constata que a maioria das empresas utiliza IA para chatbots (70%) e análises preditivas (62%), tecnologias de fácil implementação e de impacto direto. No setor de Tecnologia, 78% aplicam IA em desenvolvimento de produtos, embora esse índice inclua o uso de GenAI em codificação de software. Funções de análise de mercado, UX e outras aplicações de IA na atividade-fim, contudo, ainda são incipientes em todos os setores.

Entre os principais objetivos para implementação de IA, predominam “melhoria de eficiência operacional” e “experiência do cliente”. Paradoxalmente, apenas 13% dos respondentes estão olhando a IA como uma aliada na otimização da jornada do colaborador. Na amostragem, 68% dos respondentes são presidentes, vice-presidentes, diretores ou conselheiros.
“É preciso entrar no território. Não se pode partir para automação com um mapa teórico”, afirmou Mariana Zaparolli, líder de práticas ágeis da Bain & Company, em uma discussão sobre impactos e benefícios da IA na experiência do funcionário. Ao mesmo tempo em que a alta direção tem o papel de coordenação e governança, o mapeamento dos gargalos e as oportunidades de ganhos, assim como o alinhamento das pessoas às melhorias, pode requerer uma maior participação dos gestores nas estratégias de inovação.