A guerra na Ucrânia mostra que as políticas de responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG) também podem ser aplicadas nessa nova fronteira. O distanciamento de muitos investidores do governo de Putin é um fato, mostrando que as corporações estão colocando o ESG na prática, ou seja, o lucro não vem antes dos valores. As consequências econômicas para os mais de 140 milhões de russos é outra comprovação e elas devem ser puxadas pelas corporações, e não apenas pelas sanções de outros governos, como acontece atualmente. 

“As empresas terão de tomar uma decisão. Essa é a epítome do ESG, que as empresas dizem ser a prioridade agora. Assim como as pessoas não queriam seu dinheiro investido na África do Sul durante o apartheid, você gostaria de vê-lo investido na Rússia durante a invasão brutal da Ucrânia?”, argumentou Fiona Hill, membro do think tank Brookings Institution e especialista em Rússia. 

ESG na prática do Congo à Ucrânia

Para quem, como ela, acompanha o cenário internacional, essa não é a primeira vez que conflitos armados se misturam com negócios. Um exemplo anterior aconteceu na República Democrática do Congo, fornecedora de cobalto usado em baterias. Apesar de oferecer um produto estratégico, o país é marcado por tensões étnicas e foi boicotado internacionalmente. 

Para Antonio Batista da Silva Junior, presidente executivo da Fundação Dom Cabral, as sanções atuais contra a Rússia, no entanto, não têm precedentes em magnitude. “Estamos assistindo agora um movimento oposto ao que ocorreu há quatro décadas, com o fim da União Soviética, quando empresas correram para o mercado russo, entre elas a Coca-Cola e o McDonald’s. Isso marcou uma era de entrada de empresas do mundo inteiro na Rússia. Agora, com a guerra contra a Ucrânia, assistimos um fato novamente novo no que tange ao tamanho das sanções, com capacidade de impactar a economia russa, que cresceu 4.6% no ano passado, de maneira muito significativa”, disse ele ao programa Live CNN, transmitido ao vivo no dia 11 de março (veja o vídeo neste link). 

Batista destaca que empresas do mundo todo – incluindo do Brasil, como a Embraer, que suspendeu o fornecimento de peças e serviços, e a WEG – aderiram às sanções impostas à Rússia como forma de proteger suas reputações, principalmente pela importância do ESG. “As empresas estão aderindo às sanções por dois motivos: o primeiro é em função da pressão imposta pelos governos de seus países. O segundo é pela pressão dos investidores e das agências de classificação de risco”, explicou.

As sanções empresariais contra a Rússia começaram com a BP (antiga British Petroleum), que anunciou a venda de sua participação de cerca de 20% na Rosneft, uma das estatais russas de gás natural. 

Na sequência, a Shell, que é a maior empresa de petróleo da Europa, anunciou a decisão de encerrar suas joint-ventures com a Gazprom, maior produtora de gás do mundo. A norueguesa Equinor também vai deixar o país. O rol dos grupos de energia que tem se posicionado fortemente inclui ainda a ExxonMobil, que sinalizou que vai  se desfazer da participação que detém em um projeto nas ilhas Sacalinas, em sociedade com japoneses, indianos e russos.

As corporações indicaram que é mais importante manter-se distante do governo russo do que lucrar com a exploração de reservas naturais. O processo deve pesar no bolso de outras formas, caso do fundo soberano da Noruega, que também oficializou sua saída de todos os investimentos russos que detinha, o que totaliza US$ 2,8 bilhões em mais de 50 companhias russas.  “Putin tornou muito, muito difícil investir na Rússia, e isso deve durar um bom tempo”, afirmou à CNN Timothy Ash, estrategista da gestora BlueBay Asset Management.