O “ambientalismo tradicional” precisa ficar fora da COP 30, que acontecerá em Belém no próximo ano. A avaliação é de Marcello Brito, coordenador do Centro Global Agroambiental e da Academia do Agro na Fundação Dom Cabral (FDC). Na definição do especialista, trata-se de um movimento que massacra a produção de alimentos pelo mundo, ao mesmo tempo que não dá a devida consideração aos problemas reais com origem no uso de combustíveis fósseis.
Entre os exemplos do ambientalismo tradicional ele cita discursos da FAO, a organização da ONU voltada para a alimentação e agricultura, divulgando informações de que produção de alimentos geraria mais gases de efeito estufa (GEE) do que o sistema de transporte mundial, movido em grande parte por combustíveis fósseis. Segundo Brito, são dados que já se comprovaram ser cientificamente errados.

Outros sinais são os compromissos de metas irreais listados nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de vários países. De acordo com ele, muitos desses documentos não indicam como atingir os objetivos. “O dogmatismo ambiental não produzirá resultados”, resume Brito no artigo escrito para o site AgFeed.
Lições para a COP30, no Brasil
Para o especialista, todos corremos sério risco caso não se adote um pragmatismo necessário para negociar os novos limites políticos do planeta. Os sinais para a mudança de discurso vêm da COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão. Em outras palavras, ele afirma que “as receitas ortodoxas de combate às mudanças climáticas não vão funcionar mais”.
Brito também cita a necessidade de um redirecionamento em função dos setores da economia que são considerados “hard to abate”. O termo se refere a segmentos de mercado, como as indústrias de óleo e gás, cimento, aço, vidro, mineração e outros – que dependem fortemente de combustíveis fósseis ou processos industriais que são complexos e caros para descarbonizar.
O especialista da FDC destaca que esses segmentos precisam estar atentos aos impactos do ambientalismo tradicional em seus negócios. Ele prevê ainda que a tônica das finanças internacionais que impulsionarão a economia verde também deve ser pautada pelo pragmatismo.
Para a chamada COP do Brasil (COP30), ele argumenta que o evento precisará ter um presidente que saiba se relacionar com os diversos públicos, que saiba ouvir e pensar “fora da caixa”. Esse perfil se encaixaria no pragmatismo defendido por Brito.