Os processos de comunicação interna e externa das corporações estão intimamente ligados ao sucesso das iniciativas de inovação nas empresas. Em um mundo que enfrenta uma sobrecarga de informações, são muitos os riscos de uma comunicação malsucedida, comprometendo os resultados das mudanças a serem implantadas. Para não errar, estratégias de comunicação eficaz devem resultar em narrativas simples, coerentes e consistentes. Tudo deve ser o mais sintético possível e apontar recorrentemente para as mesmas conclusões.

Este raciocínio foi apontado por Axel Sande, professor convidado da Fundação Dom Cabral (FDC), doutor em design pela PUC-Rio, especialista em processos de inovação com foco na geração de valor e consultor para planejamentos estratégicos de comunicação efetiva, no artigo ‘A efetividade da comunicação corporativa em contextos de inovação’, publicado na última edição da Revista DOM.

O processo de ‘infoxicação’

Para Sande, estamos todos ‘infoxicados’. Ele explica que o termo ‘infoxicação´ foi utilizado pelo pesquisador catalão Alfons Cornellá, ainda nos anos 90, para representar a sobrecarga mental causada pelo excesso de informações no ambiente virtual. Cornellá abordou a impossibilidade humana de absorver tamanho volume de informações e como isso nos levaria à dispersão e provocaria o aumento da ansiedade.

Passadas quase três décadas desde o surgimento do termo, diz Sande, “estamos cada dia mais dispersos, ansiosos e imediatistas”.

O autor do artigo afirma que o sucesso da comunicação eficaz corporativa está condicionado à interação e ao diálogo com funcionários, fornecedores, parceiros, clientes e sociedade. “A efetividade comunicacional dependerá do poder de escuta, de síntese e da capacidade de repetir inúmeras vezes uma mesma narrativa nos mais diversos canais disponíveis. Deste modo, se torna exequível a tarefa de influenciar percepções, crenças e comportamentos”, explica Sande.

Capacidade de adaptação

comunicação eficaz professor

Se o mundo contemporâneo já nos exige mais do que podemos entregar, as dificuldades aumentam quando organizações investem em processos de inovação. No momento em que uma empresa se depara com o desafio de comunicar contextos de inovação, é crucial assegurar que os colaboradores estejam preparados para mudar. Ou seja, que funcionários e parceiros desenvolvam a capacidade de se adaptar a novos modos de pensar e agir. Ao mesmo tempo, é imprescindível prover informações aos clientes, demais stakeholders e à sociedade em geral, a fim de que percebam o valor das propostas de inovação.

Mas nem tudo é tão simples. Em uma leitura abstrata, Sande explica que, quando o objetivo é inovação, nem sempre o colaborador percebe de imediato as vantagens de mudar. No início de cada processo, em que a necessidade de mudança se apresenta, o instinto de autopreservação pode levar à percepção de perdas e o receio do potencial esforço demandado. Por isso, a comunicação eficaz gera significados relevantes, impondo-se em um mundo hiperconectado e ‘infoxicado’, para explicar os ganhos potenciais dos processos.

Sande destaca que “o principal perigo para as organizações não está na falta de compreensão de suas mensagens, mas nas compreensões contraproducentes. Grande parte das vezes, entendimentos e justificativas não alinhados com objetivos estratégicos só serão detectados quando influenciarem comportamentos e tomadas de decisão prejudiciais ao negócio e ao bem-estar das pessoas. Para garantir uma comunicação efetiva com seus colaboradores, é importante o entendimento de que eles precisarão gerar, por conta própria, significados próximos aos esperados pela organização”.

Como desenvolver as iniciativas

O autor destaca cinco tópicos fundamentais para fomentar a comunicação eficaz e a inovação.

  1. Assegurar que todos percebam a importância dada ao processo de inovação. O objetivo desta primeira etapa é a conquista da atenção, recurso básico para o desenvolvimento de um projeto de comunicação efetiva.
  2. Entender a lógica da síntese de valor para dentro e para fora: como um sistema interconectado, utilizar a causa e efeito, explicitando como o valor do negócio é impactado por cada área e como este valor impacta a sociedade.
  3. Evidências de sustentação: é importante garantir a percepção de que os recursos fundamentais ao processo estão sendo alocados. Viabilizar a estrutura (percebida interna e externamente) como necessária evidencia a seriedade com que o processo é tratado pela organização.
  4. Indicar como as mudanças devem ser incorporadas às rotinas de cada área e para cada membro em cada equipe. Todos precisam entender o que deve ser feito para que a inovação seja implementada. Quanto maior é o entendimento de o que, como, quando e por quê mudar, menor será a resistência ao processo.
  5. Celebrar as mudanças. Na comunicação interna, principalmente, é essencial publicitar avanços conquistados e obstáculos vencidos durante todo o percurso, até se chegar ao novo patamar de resultados. Na comunicação externa, vale garantir uma narrativa simples e coerente para a percepção do valor da inovação.