Será que as lideranças na administração pública estão preparadas para lidar com os desafios adaptativos, ou seja, aqueles que não são técnicos, e que exigem entendimento de situações complexas e sabedoria? Segundo resposta de duas especialistas em administração, para estar preparada, a liderança adaptativa deve ser caracterizada pela “capacidade de mobilizar pessoas e pela habilidade de inovar continuamente, envolvendo um aprendizado constante e uma determinação firme para vencer em um mundo sempre em mudança”.
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Essas observações – que poderiam ser usadas também na liderança privada – fazem parte do artigo ‘Como liderar desafios adaptativos’, escrito para o XIII Congresso Consad (Conselho Nacional de Secretários de Estado da Administração) de Gestão Pública por Renata Vilhena, professora associada da Fundação Dom Cabral (FDC), e Vivian Rodrigues, Gerente de Projetos da FDC e Especialista em Estratégia e Modelos de Negócios.
Transição de governo pode gerar descontinuidade
As autoras citam como exemplo de desafio adaptativo a transição de um governo, que pode gerar descontinuidade, reduzir a motivação das equipes e exigir das lideranças controle e sabedoria para prever eventuais tensões e desequilíbrios que ameacem a boa execução do trabalho. Segundo elas, o caminho positivo pode estar em alguns comportamentos.
“Os líderes adaptativos são flexíveis e dispostos a desviar-se do planejamento inicial sempre que a realidade se mostrar diferente do que foi previsto, realizando esses ajustes tantas vezes quanto necessário”, defendem as autoras.
Relação entre usuários e órgãos públicos deve ser agradável
Na administração pública, os órgãos devem se preocupar, à luz dos desafios adaptativos, em gerar uma experiência satisfatória e conveniente ao público. Trata-se de garantir que a relação seja a mais agradável possível, oferecendo atendimento e informação.
Para alcançar esse cenário positivo, surgem os desafios técnicos e os adaptativos. Um exemplo de desafio técnico seria uma simples operação tapa-buraco de ruas, que exige ferramentas e procedimentos já estabelecidos. Mas o caso do transporte público de uma cidade já é um problema complexo, um desafio adaptativo que vai exigir estudo de orçamento, viabilidade técnica, rotas e demanda, além de implicar o interesse de usuários, empresas de transporte e políticos.
A pergunta é: como os líderes devem desenvolver estratégias para resolver os desafios adaptativos?
“Os problemas exigem ferramentas não convencionais para sua solução e demandam uma abordagem sistêmica e integrada. É necessária a customização de soluções a partir da aplicação de metodologias que permitem um olhar integrado do caso”, responde o artigo.
Bolsa Família é exemplo
Um bom exemplo de solução de desafios adaptativos apontado no artigo é o programa Bolsa Família. Criado em 2003, seu objetivo era combater a fome, a pobreza extrema e a desigualdade social. Consiste, basicamente, em um programa de transferência de renda direta para famílias mais socialmente vulneráveis. Mas o programa exige condições, como o cumprimento do calendário de vacinação, acompanhamento nutricional de crianças, pré-natal em gestantes e a inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico).
O Bolsa Família gerou trunfos, como a retirada de 3 milhões de pessoas da pobreza extrema e a saída do país do Mapa da Fome da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação. Com tantos órgãos envolvidos, os resultados só foram possíveis graças a uma abordagem complexa dos desafios adaptativos envolvidos.
