Você sabe o que é ‘carewashing’? Trata-se de uma nova expressão para caracterizar ações que distorcem a realidade, para parecer que compromissos ou padrões positivos em relação aos funcionários estejam sendo adotados pelas empresas. Estamos falando sobre cuidados – do inglês ‘care’ – mas trata-se de uma abordagem inconsistente do real bem-estar oferecido aos colaboradores. O nome tem a mesma origem do ‘greenwashing’, expressão que significa ‘lavagem verde’ e costuma ser usada como propaganda enganosa, quando empresas tentam mostrar que fazem mais em prol do meio ambiente do que realmente realizam.

O tema é abordado em artigo no LinkedIn por Patricia Pessoa Pousa, Executiva de Gente e Gestão em Saúde e doutora em Mundo do Trabalho e Saúde Mental na FCM-Unicamp. Para ela, muitas empresas acreditam que oferecer uma mesa de sinuca, videogame, piscina de bolinhas, tênis de mesa, yoga, um app de terapia ou um cantinho para relaxar é suficiente para apresentar uma cultura positiva no trabalho, enquanto, na verdade, elas estão apenas praticando o ‘carewashing’.

Pontos que geram estresse

A consultora explica que para gerar verdadeiro bem-estar e evitar ‘burnout’ no trabalho é necessário que a empresa se concentre, principalmente, nos pontos que geram estresse e sobrecarga nos trabalhadores, promovendo, por exemplo, metas realistas, boa relação entre líderes e liderados, planos de carreira bem estruturados, autonomia e incentivo para novas ideias, flexibilidade no horário de trabalho e prazos de entrega de demanda possíveis.

“É importante ter em mente que o bem-estar dos funcionários afeta diretamente como as empresas se saem. Se eles não estão satisfeitos com o ambiente de trabalho, o efeito será negativo”, argumenta Pousa.

Líderes despreparados

A doutora baseou parte de seu texto no LinkedIn no artigo “How Carewashing Alienates Employees” (Como o ‘carewashing aliena funcionários), de  Maren Gube, Cynthia Mathieu e Debra Sabatini Hennell. Ela acrescenta que o ‘carewahing’ muitas vezes resulta de líderes despreparados – em parte pela falta de investimento em programas de mentorias –, que se preocupam mais em manter “uma aparência de harmonia no trabalho” do que em analisar fatores como demandas exaustivas que aumentam o estresse da equipe. Uma pesquisa Gallup, por exemplo, indica que a porcentagem de funcionários que concordam que sua empresa se preocupa com o bem-estar geral caiu de 49% em 2020 para 21% em 2024.

Patrícia diz que muitos trabalhadores buscam mais um ambiente saudável do que salários altos. “É o famoso fenômeno “trabalho para viver; não vivo para trabalhar”, diz a doutora, citando como exemplo o caso da apresentadora Eliana, que recentemente se despediu do SBT, após longos e sólidos anos de contrato.

Atenção à saúde mental

Reportagem na Folha de S.Paulo destaca que a pandemia de Covid-19 trouxe mais atenção para o bem-estar e saúde mental no trabalho.  De acordo com a última pesquisa ‘Lugares Incríveis para Trabalhar’, da Fundação Instituto de Administração (FIA), 87% das companhias oferecem treinamentos e palestras sobre saúde mental — um aumento de 5% em relação a 2022. Desde 2020, cresceu gradativamente o número de empresas que não só falam abertamente sobre o tema, mas investem em programas, conforme explica o psiquiatra Wagner Farid Gattaz, professor da Faculdade de Medicina da USP e fundador da GHR, consultoria de saúde mental em empresas.

Mas, nem tudo é perfeito, segundo ele. “Quando há mais mercado, a oferta aumenta. Primeiro, com produtos de qualidade e, depois, com as ‘cópias baratas’. Tudo passou a ser terapia, inclusive programas sem embasamento científico, de eficácia duvidosa”, alerta Gattaz.

O que é bem-estar no trabalho

carewashing office

A reportagem lista o que, de acordo com especialistas, é de fato bem-estar no ambiente de trabalho e apoio à saúde mental. Confira.

1. Comunicação

Feedbacks construtivos, sejam positivos ou negativos, transparência e eficiência na comunicação criam um ambiente melhor. Segundo Gattaz, empresas com maiores níveis de comunicação positiva têm menor incidência de doenças mentais.


2. Autonomia

É conferir ao colaborador poder de decisão, quando possível, sobre o que fazer, como fazer e quando fazer.

3. Suporte social

É o acolhimento no ambiente de trabalho. “Ter um relacionamento de confiança com chefias e colegas de trabalho, saber que há alguém para conversar e que existe compreensão, caso haja um problema financeiro, familiar ou uma doença”, diz o psiquiatra.