Apesar do cenário desafiador, a economia brasileira deverá viver um 2025 bastante positivo, com crescimento esperado de 2%. Taxas de crescimento semelhantes – 1,7% em 2026 e 2% em 2027 e 2028 – são esperadas pelo mercado, representando um bom quadro também para os próximos anos. As estimativas foram reveladas por Bruno Carazza, professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC), durante webinar promovido pelo veículo de comunicação e marketing Meio & Mensagem, em seu canal no LinkedIn. O webinar funcionou como uma aula de macroeconomia e suas nuances no mercado brasileiro e internacional.

“A tendência da economia é se manter aquecida em 2025, principalmente devido ao aumento do emprego, e esse ritmo deve se manter ao longo dos próximos anos”, afirma Carazza.

Avanços e percalços

No mercado interno, o aumento do emprego, seja com carteira assinada, seja como Microempreendedor Individual (MEI) ou Pessoa Jurídica (PJ), gerou elevação do consumo de bens duráveis ou não e maior atividade econômica do país em geral. Mas o cenário não é tão simples para a economia, que apresenta muitos percalços, como a inflação, aumento da taxa Selic, dólar caro e desequilíbrio fiscal.

Para ilustrar o atual cenário positivo, Carazza falou sobre a variação do Produto Interno Bruto (PIB), que apresentou crescimento nos últimos quatro anos. Segundo ele, desde o início do século, é a primeira vez que o PIB se mantém em alta durante quatro anos seguidos. A elevação é reflexo de uma economia aquecida, com boa pontuação no mercado. Ao contrário de 2020, quando o PIB caiu 3,3%, reflexo da pandemia de Covid-19, os anos seguintes foram de alta – 4,8% em 2021; 3% em 2022; 3,2% em 2023 e 2,5% em 2024.

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Queda da taxa de desemprego

O aquecimento da economia estimulou o trabalho, com a taxa de desemprego caindo de 15% em 2020 e 2021 para 6% em 2024. Também foi verificado um aumento de renda das famílias, em parte devido a programas sociais como o Bolsa Família. Mas o cenário está longe de ser perfeito. Mesmo com renda mais alta, há nada menos que 74 milhões de pessoas com algum tipo de dívida no Brasil, segundo o Serasa.

O dólar alto, outro fator que mancha o currículo econômico do país, deve se manter na faixa dos R$ 6 nos próximos anos, segundo Carazza –, fruto da forte economia norte-americana, reforçada pelo novo mandato de Donald Trump. O câmbio alto repercute na inflação, que deve atingir 5,5% esse ano, acima do teto de 3% estabelecido pelo governo. A alta de preços, em parte, é explicada pelo aumento de custos com a importação de itens como eletroeletrônicos, vestuário, adubo e defensivos agrícolas e combustíveis. O câmbio, aliado ao aumento do consumo, também repercute na alta da taxa Selic, que bateu 13,25% no fim de janeiro.

“No fim do ano, a Selic deve chegar a 15% e permanecer em dois dígitos até 2028”, prevê o professor, com base nas expectativas do mercado.

Dólar caro abre oportunidades para o Brasil

Mas o outro lado da moeda do dólar caro abre boas oportunidades para diversos setores exportadores da economia brasileira, em especial o agronegócio. Após uma queda de produtividade em 2024, principalmente devido a fatores climáticos, a safra de alimentos deverá crescer 10% este ano, segundo Carazza. Outros setores que vão se beneficiar do dólar alto são o de alimentos e bebidas, carnes, mineração e produção de óleo e gás.

Já no mercado interno, o aumento de renda das famílias beneficiou diversos setores, como farmácias e produtos de beleza – cujas vendas, nos últimos 12 meses, aumentaram 13,5%; veículos e autopeças (mais 11,8%); e supermercados (mais 5,8%). As vendas subiram, mas alguns preços também, como os de alimentos.

“A economia vive um bom momento, mas há uma tendência de aumento de preços nos supermercados, o que precisa ser contido pelo governo”, defende o professor.

Desequilíbrio fiscal preocupa

Outro fator de imensa preocupação na economia é o desequilíbrio fiscal.

“O governo gasta mais do que arrecada desde 2014. Trata-se de uma situação que causa endividamento, além de pressionar o câmbio, gerando insegurança para a economia. E o arcabouço fiscal proposto pelo ministro Haddad não tem sido suficiente para estabilizar a dívida pública”, explica Carazza.

Disputa EUA X China pode beneficiar o Brasil

No cenário internacional, no qual os EUA disputam mercado com a China, buscando sobretaxar suas exportações, a guerra comercial entre as duas potências pode beneficiar o Brasil. A exemplo do último governo Trump, o Brasil pode se favorecer com mais exportações para a China, de produtos como carne, milho, soja e algodão. O mercado financeiro dos EUA, com juros elevados, também pode ser uma boa fonte de investimentos para grandes empresas brasileiras.

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Sobre o embate dos EUA contra os imigrantes, Carazza vê pouco impacto na economia nacional, visto que não há muitos trabalhadores brasileiros nos Estados Unidos. Já na América Central, o baque poderá ser forte, uma vez que há muitos imigrantes desta região, que enviam dinheiro para suas famílias, o que corresponde a parte dos recursos econômicos desses países. Os EUA, por sua vez, devem enfrentar um abalo no mercado de trabalho. Apenas no setor de limpeza, bares e construção civil, os postos de trabalho ocupados por imigrantes legais e ilegais representa de 30% a 40% do total de empregados.

Investimentos em marketing

Carazza destacou que o acirramento da competição no mercado brasileiro, devido ao aumento do consumo, deve gerar mais investimentos em marketing pelas empresas nacionais. O cenário, segundo o professor, favorece atividades em serviços especializados, além de assessoria e consultoria econômica, jurídica e de comunicação e marketing. Para ilustrar este raciocínio, Carazza lembra que o crescimento do setor de serviços foi de 6,7% em 2024.