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Impacto positivo e legados sustentáveis
No primeiro episódio do Cultura da Doação, um podcast da Fundação Dom Cabral, Joana Mortari, diretora da Associação Acorde e cocriadora do Movimento Por Uma Cultura de Doação, afirmou que o brasileiro está dando mais valor ao ato de doar. Segundo a Pesquisa Doação Brasil 2020, 83% dos respondentes sentem que doar faz alguma diferença. O índice representa 17 pontos percentuais a mais em comparação com o levantamento anterior, de 2015.
É verdade que o valor total das doações caiu de R$ 13,7 bilhões para R$ 10,3 bilhões nesses cinco anos, mas isso não diminuiu a importância das iniciativas. O volume de doações menor é atribuído à duração da crise econômica no Brasil. “Não significa que a população brasileira não se conscientizou sobre o papel e a importância da doação”, afirma Joana.
Ela cita que, em 2015, 87% dos brasileiros atribuíam a responsabilidade dos problemas sociais ao governo e, em 2020, esse número cai para 39%. “Tem uma sensação de que ‘pera aí, não é só o estado que tem uma obrigação’. Eu sou cidadão também tenho e a minha forma de atuar”, diz.
Voluntariado é ato de doar
A doação do tempo também precisa ser valorizada, segundo a ativista. O voluntariado, como costuma ser chamado esse tipo de ação, é importante e precisa ser incentivado.
Joana fala sobre o exemplo da doação de conhecimento para ajudar organizações sociais a gerirem melhor suas atividades. “Muito desse conhecimento é essencial para organizações sociais. Há muitos programas de fortalecimento de gestão, que são importantes para iniciativas que estão, às vezes, no começo de vida ou numa fase desafiadora”, explica, citando o uso de programas de mentoria.
Para Joana, a questão é educar o brasileiro. Tanto que essa é a primeira diretriz do movimento que lidera. “Universidades e escolas têm um papel fundamental na educação (da doação) desde cedo. Da mesma maneira que acontece em outros países do mundo, como Estados Unidos e Canadá, onde a ideia de participação social e doação de tempo através do voluntariado, e depois de recursos, já faz parte da atividade escolar e é quase exigida na hora de um aluno entrar numa faculdade de primeira linha”, completa.
Também é preciso que o brasileiro entenda que nenhuma doação é pequena ou que doar é algo que se faz quando fica mais velho ou mais rico. Ela conta que a cultura da doação prega por algo que é diário e que faz parte da vida. “Quando a gente se programa financeiramente, precisa se programar com o dinheiro que a gente vai gastar, o dinheiro que a gente vai guardar e o dinheiro que a gente vai doar”, destaca.
Ela diz que a doação não pode ser vista como uma coisa pontual, que se faz quando tem dinheiro sobrando ou quando dá vontade. “Somos nós que precisamos reconhecer esse lugar da importância da doação”, afirma.