O Brasil é frequentemente citado como um dos mercados emergentes mais promissores, mas sua trajetória de crescimento econômico permanece um desafio. De acordo com Paulo Vicente, professor de estratégia da Fundação Dom Cabral, o país tem bastante potencial, com oportunidades de investimento, mas barreiras ao desenvolvimento  e possíveis cenários para o período de 2025 a 2028.

Paulo Vicente dos Santos Alves (Foto: Divulgação)

Com um mercado diversificado, posição geopolítica estratégica e população crescente, o Brasil apresenta características que o tornam atrativo para investidores internacionais. Entretanto, questões como protecionismo, complexidade tributária e infraestrutura deficiente são obstáculos importantes a serem superados.

Oportunidades no mercado brasileiro

agronegócio, cenário econômico

De acordo com Paulo Vicente, o mercado brasileiro possui oportunidades robustas em setores B2C e B2B. No consumo, o crescimento da classe média impulsiona a demanda por bens gerais, enquanto o mercado de luxo desponta nas classes A e B1, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro.

No setor B2B, áreas como agronegócio, energia, logística e educação se destacam. O agronegócio, por exemplo, evolui em direção à agroindústria, enquanto gargalos na infraestrutura logística abrem espaço para soluções inovadoras. Setores como tecnologia, turismo e energia renovável, especialmente solar e hidrogênio verde, também oferecem potencial significativo para investidores.

“O movimento ‘near shore’, que traz indústrias da Ásia para o Ocidente, coloca o Brasil em uma posição privilegiada para se beneficiar desse realinhamento industrial global”, afirma Paulo Vicente.

Crescimento econômico tem barreiras

Apesar das oportunidades, o Brasil enfrenta desafios estruturais que limitam seu crescimento. Entre eles estão:

  • Protecionismo: restringe a competitividade e reduz investimentos em inovação.
  • Sistema tributário complexo: desestimula investimentos devido à insegurança jurídica e altos custos tributários.
  • Infraestrutura deficiente: altos custos logísticos prejudicam a competitividade de produtos nacionais e importados.
  • Falta de mão de obra qualificada: afeta diretamente a produtividade e limita o crescimento do mercado consumidor.
  • Baixo investimento em P&D: impacta negativamente a inovação e o desenvolvimento tecnológico.

Esses fatores, segundo o estudo, criam um ambiente desafiador, mas também sinalizam áreas críticas onde políticas públicas e investimentos privados podem gerar avanços significativos.

Período 2025-2028 tem quatro cenários possíveis

Paulo Vicente projeta quatro cenários possíveis para o Brasil nos próximos anos, baseados na intensidade do movimento near shore e nas tensões geopolíticas com a China:

  1. Status Quo (“Fazenda do Mundo”): o país permanece dependente do agronegócio, mas o desequilíbrio fiscal aumenta, tornando esse cenário insustentável.
  2. Ocidentalização (“Efeito Tequila”): uma intensificação do near shore gera crescimento econômico, similar ao impacto do NAFTA no México nos anos 1990. Porém, a ineficiência governamental reduz as chances desse cenário.
  3. Crise & Corrida: um conflito entre a China e outras nações provoca uma crise inicial no Brasil, mas acelera o movimento near shore, tornando o país um destino atrativo para indústrias. Esse é considerado o cenário mais provável.
  4. Potência Industrial: a combinação de um conflito geopolítico e uma forte industrialização transforma o Brasil em uma potência econômica global. Embora improvável a curto prazo, é visto como possível em um horizonte de longo prazo.

Segundo o especialista, o Brasil está em uma encruzilhada econômica. Apesar de desafios significativos, o país oferece uma ampla gama de oportunidades para investidores, especialmente em setores estratégicos e inovadores. A capacidade de superar barreiras estruturais e aproveitar tendências globais, como o near shore, será determinante para definir qual dos cenários previstos se concretizará. Executivos e investidores que desejam atuar no Brasil, segundo Paulo Vicente, precisam não apenas entender a complexidade do mercado, mas também adotar estratégias que aproveitem as vantagens competitivas do país, alinhando-se ao potencial de longo prazo da economia brasileira. Para ler a análise completa (em inglês), clique aqui