O trio de tecnologias, formado por Big Data, Inteligência Artificial e cibersegurança, deve pautar o futuro do trabalho. Na lista das 15 funções com maior crescimento no período entre 2025 e 2030, a demanda por tecnologia deve, inclusive, levar à criação de 170 milhões de novos postos de trabalho, o que representa 14% do que é oferecido atualmente no mundo.
As ocupações com crescimento mais rápido incluem especialistas em Big Data, engenheiros de fintechs, especialistas em machine learning e IA, desenvolvedores de softwares e aplicações, além de especialistas em gestão de segurança. Na sequência dos top 10, aparecem, por ordem: especialistas em armazenamento de dados, especialistas em veículos elétricos e autônomos, designers de interface e de experiência do usuário, especialistas em Internet das Coisas (IoT) e motoristas de serviços de entrega.
Outras cinco ocupações que devem estar no radar de empregabilidade são: analistas e cientistas de dados, engenheiros ambientais, analistas de segurança da informação, engenheiros de DevOps e engenheiros especializados em energia renovável.
Habilidades mais relevantes

Além da indicação dos postos mais procurados, a pesquisa também aponta as habilidades que devem pautar as mudanças nos próximos cinco anos. Entre as três mais destacadas, está o pensamento analítico, que foi apontado como a principal competência, com 69% das indicações. Em segundo lugar, aparece a combinação de resiliência, flexibilidade e agilidade (67%), seguida pela habilidade de mesclar liderança e influência social (61%).
O próximo trio de habilidades mais decisivas, mas de importância imediatamente menor, é formado pelo pensamento criativo (57% das indicações), motivação e autoconhecimento (52%) e alfabetização tecnológica (51%). Duas outras competências foram citadas por metade dos entrevistados e merecem atenção: a combinação de empatia e escuta ativa e a capacidade de unir curiosidade com aprendizado contínuo.
As informações fazem parte do relatório “O Futuro do Trabalho 2025”, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF), a partir de dados de 50 países. No Brasil, a pesquisa contou com a participação da Fundação Dom Cabral (FDC), parceira do WEF há vários anos. Em relação à pesquisa anterior, lançada em 2024, o levantamento atual confirma o posicionamento privilegiado de profissões focadas em tecnologias que antes eram vistas apenas como tendências.
Algumas profissões deixarão de existir, mas saldo é positivo
Para Hugo Tadeu, diretor do Núcleo de Inovação, Inteligência Artificial e Tecnologias Digitais da FDC, os dados mostram que as tecnologias citadas deixaram de ser um ‘hype’ para se tornarem uma aplicação real do dia a dia, como é o caso da IA. Ele lembra que o relatório também aponta o declínio de várias ocupações, o que totalizaria a eliminação de 92 milhões de empregos atuais.
Apesar desse número, Tadeu não vê o relatório como catastrófico: o incremento impulsionado pelas novas tecnologias ainda resultaria em um saldo positivo de 78 milhões de novos postos, considerando os 170 milhões de empregos a serem criados.
O especialista, no entanto, alerta para o cenário brasileiro, onde a demanda por tecnologia deve ser suprida pela contratação de profissionais, e não pela formação interna nas empresas, como acontece nos países onde a produtividade é maior.
A requalificação, por sua vez, é uma palavra de ordem. O levantamento – que ouviu empregados e empregadores – indicou que 65% dos empregados consideram a necessidade de aprimoramento. Além disso, sete entre dez trabalhadores estariam dispostos a dedicar horas fora do trabalho para se requalificarem. Para Tadeu, caso as corporações não patrocinem a requalificação, fica a dica para os próprios profissionais buscarem formas de se aprimorar.
Outros dois dados ressaltam mudanças para os empregadores: 76% dos trabalhadores preferem empregos que oferecem opções de atuação remota ou híbrida, e 63% preferem corporações com políticas claras de diversidade e inclusão. “Os empregados esperam que seus empregadores invistam na formação, como aponta o alto índice de quem usaria o tempo fora do trabalho para a requalificação”, argumenta.
Tadeu destaca ainda que a “requalificação não é apenas um cursinho feito em plataformas tecnológicas de fácil acesso no mercado, mas sim uma formação com a devida qualificação técnica”. O especialista também lembra que as áreas de RH das corporações brasileiras devem repensar o formato do desenvolvimento interno dos profissionais, uma vez que essa estratégia pode ser menos custosa e mais interessante para aumentar a produtividade das empresas.
Formação deve ser aprimorada
Da mesma forma, ele observa que as universidades brasileiras – considerando que estamos falando de postos de trabalho de nível superior – devem revisar sua formação de profissionais, com foco no chamado STEM, ou seja, profissões que envolvem ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Em países mais desenvolvidos, o incentivo à formação na área de STEM é mais acentuado. E, segundo o relatório do WEF em parceria com a FDC, as disciplinas de engenharia, por exemplo, devem ser diferenciais na ocupação de postos de trabalho até 2030.
Ainda em relação ao mercado brasileiro, o levantamento traz outros recortes. É o caso da mudança de habilidades entre os trabalhadores locais, que deve chegar a 37%. A esmagadora maioria das empresas – 90% – tem a intenção de aprimorar seus colaboradores nisso, com foco em IA, Big Data, pensamento crítico e alfabetização digital. Como destacou Tadeu, 58% pretendem recrutar funcionários com novas habilidades desejadas, uma tendência diferente de países mais avançados, que focam na transição interna de seus colaboradores.
“O relatório traz uma perspectiva concreta sobre o mundo de dados, que deixou de ser algo de laboratório para se tornar uma realidade aplicada. A tecnologia começa com pessoas e termina com pessoas”, finaliza Tadeu.