As alianças estratégicas acontecem nos mais diversos setores da economia e estão sendo cada vez mais utilizadas pelas organizações na busca de recursos complementares e na consequente obtenção de vantagens competitivas. Além de serem instrumentos estratégicos, elas possibilitam até que empresas concorrentes entre sim entrem em alguma forma de acordo tático para obterem benefícios mútuos através de investimentos em ativos e tecnologias em comum.
O que levaria as empresas automobilísticas General Motors, Honda, Stellantis, Hyundai, BMW e Mercedes-Benz a se unirem em uma aliança estratégica? Com certeza a obtenção de um benefício em comum a todas. Recentemente, elas anunciaram um investimento em conjunto de mais de U$ 1 bilhão somente nos Estados Unidos, com o objetivo de definir, construir e instalar uma ampla rede de postos de recarga para os seus diversos modelos de carros elétricos.
A Tesla como empresa líder no segmento de carros elétricos, já possuía a sua própria rede de postos de recarga e, adicionalmente, desenvolveu um sistema padrão, exclusivo para conectar à rede elétrica aos seus modelos de carros na hora da recarga das baterias. As seis montadoras citadas, portanto, tinham a seguinte escolha: aderir ao sistema já existente, e reforçar a liderança e tecnologia desenvolvida pela Tesla, ou atuar em conjunto para desenvolver um sistema de recargas diferenciado. Optaram pela segunda, através de uma aliança estratégica.
Desenvolver um padrão que se torne referência em um determinado mercado é uma ação que necessita de uma enorme quantidade de recursos organizacionais. Poucas empresas conseguiram atingir a este ponto de excelência. A Tesla estava neste caminho, mas, como os “recursos críticos de uma organização extrapolam as fronteiras das firmas” (Dyer & Sing 1998), as seis montadoras mencionadas viram em uma ação conjunta a possibilidade de sucesso.
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Neste contexto surge a aliança estratégica entre elas. De que adiantaria cada uma delas desenvolver um formato padrão de conexão à rede elétrica e disponibilizar estes pontos através de uma rede de postos de conexões em países continentais de dimensões enormes? Recursos e tecnologias seriam investidos com possibilidade baixa de sucesso. Agora, montadoras de referência do setor atuando em conjunto, mostra uma enorme capacidade de inovação e de nível de investimento superior, inclusive aos padrões estabelecidos pela marca líder. Em outras palavras, sozinhas, as empresas não conseguiriam desafiar a marca líder. Em conjunto, através de uma aliança estratégica, isso se torna possível.
Ao unirem os seus conhecimentos, definindo padrões em conjunto, treinando as suas redes de concessionários e funcionários e fazendo investimentos em ativos em comum, estas empresas demonstram claramente os benefícios estratégicos que as alianças proporcionam as mais diversas organizações.
Alianças estratégicas e concorrência são independentes
Em tempos de alta necessidade de diferenciação mercadológica e de grande velocidade de inovação, as alianças se apresentam como uma das ferramentas mais rápidas e efetivas na obtenção dos desejados diferenciais competitivos. As empresas envolvidas não deixam de ser concorrentes entre si, oferecendo modelos e níveis de preço absolutamente distintos, mas quando pensaram na forma rápida de expandir a rede de postos de recarga pelos diversos países em que atuam, entenderam que a atuação conjunta seria uma excelente opção. Objetivamente, encontraram benefícios mútuos entre si.
As montadoras não só criaram um novo padrão de recarga em conjunto, como também definiram que o padrão exclusivo da Tesla será igualmente aceito nos milhares de postos de recarga que serão construídos nos próximos anos.
Com o aprendizado organizacional que virá desta aliança estratégica, também será possível que outras montadoras, como Volkswagen, Toyota e Ford – que ainda não definiram se vão aderir ou não à aliança existente – façam parte deste vetor de mercado. E não é impossível que o padrão desenvolvido em comum se torne dominante ao ponto que até a líder de mercado venha a aderir a ele no futuro.
As alianças, portanto, podem ser caracterizadas como relacionamentos de longo prazo, nos quais os parceiros envolvidos têm expectativas de obter benefícios mútuos. Ou seja, é uma iniciativa colaborativa, tão de acordo com o “zeitgeist” contemporâneo que estamos vivendo.
* Paulo Octavio Pereira de Almeida é diretor executivo da União Brasileira de Feiras e Eventos de negócios (UbraFE), DIRETOR da Live Marketing Consultoria e mestrando em administração pela Fundação Dom Cabral.