Em 2025, o tema ESG (Meio Ambiente, Social e Governança) deve ganhar ainda mais força. O ano promete ser uma espécie de marco em relação a regulamentações voltadas para a Agenda ESG implementadas no Brasil e no mundo, que devem favorecer investimentos nestas iniciativas. Graças a essas regulações, a expectativa é de que, nas empresas, as questões ESG comecem a sair da agenda institucional para a alocação de capital, a partir de planos financeiros traçados pelas governanças que considerem os impactos desses temas sobre o valor e os resultados das companhias.
Matéria publicada no site Capital Reset, que cobre negócios e investimentos conectados com a busca de soluções para desafios ambientais e sociais, traça um panorama dos aspectos mais relevantes em torno de regulação e impacto nos investimentos ESG. A reportagem afirma que a chamada “agenda ESG raiz”, que trata da materialidade de riscos causados por questões ambientais, sociais e de governança, ganhará ainda mais atenção.
Norma 193 da CVM
A principal mudança regulatória no Brasil é a norma 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que trata do conjunto de regras para divulgações financeiras ligadas à sustentabilidade e questões climáticas, batizados de S1 e S2. Segundo especialistas ouvidos na reportagem, a medida deve ajudar a amenizar a falta de dados e de padronização na temática, uma das dificuldades crônicas da agenda ESG.
A CVM foi a primeira a adotar oficialmente o padrão global criado pelo International Sustainability Standards Board (ISSB), ligado à IFRS Foundation (organização sem fins lucrativos, criada para desenvolver padrões de divulgação de contabilidade e sustentabilidade de alta qualidade), a mesma organização que dita as regras para o padrão contábil mundo afora. O novo padrão foi endossado pela Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários (Iosco, a “CVM das CVMs”).
Divulgações financeiras

As divulgações financeiras ligadas à sustentabilidade e questões climáticas serão obrigatórias a partir de 2027, em relação ao exercício de 2026, mas podem ser feitas voluntariamente um ano antes, ou seja, em 2026, relativas a 2025.
A regulação deve auxiliar a deixar os riscos ESG mais tangíveis, diz Fernanda Camargo, CEO e sócia-fundadora da Wright Capital.
“Várias partes da sociedade, como políticos ou o marketing de empresas, capturaram o termo ESG. Mas por ser tão abstrato, não era fácil comunicá-lo para o público geral. Agora, ele está cada vez mais indo para as áreas de risco”, argumentou.
Portfólios de investimento
Maria Eugenia Buosi, sócia da KPMG, aponta que essa normativa impacta portfólios de investimentos. Nos reportes, as empresas terão que apresentar, por exemplo, os planos de investimentos para atender a seus compromissos de descarbonização e os impactos de riscos socioambientais sobre custos operacionais. Já um relatório da EY destaca que o alinhamento com os padrões IFRS pode abrir portas para mercados de capitais internacionais, nos quais a conformidade com ESG é cada vez mais um pré-requisito para o interesse do investidor.
Outro aspecto regulatório é que a taxonomia brasileira, que está em consulta pública, também será vital para trazer “concretude” para a agenda ESG, segundo explica Fernanda Camargo, da Wright. Quando aprovada, a taxonomia será a classificação oficial do que pode ser considerado um investimento de impacto socioambiental positivo. Uma definição do que é taxonomia é um sistema de classificação que apoia a definição de finanças sustentáveis.
Mercado de carbono
Mais um cenário que influenciará a Agenda ESG é que, em dezembro de 2024, o mercado regulado de carbono virou lei no Brasil. A regulamentação ainda exigirá alguns anos até que a implementação seja concluída e as companhias sejam sujeitas a limites de emissões, mas os investidores já devem começar a identificar os impactos potenciais sobre o seu portfólio de ativos, diz Maria Eugenia Buosi, da KPMG.
“A necessidade de compensar carbono vai impactar o custo operacional de alguns setores e, direta ou indiretamente, os seus resultados financeiros”, explica Buosi.
Henri Rysman, líder de crédito no BNP Paribas, também espera que a criação desse mercado contribua para que os riscos ligados às emissões de gases de efeito estufa sejam melhor especificados pelas empresas que mais poluem.
Transição energética

Um movimento recente tem acontecido para fortalecer a agenda da transição energética, e ele deve ser intensificado ao longo de 2025, de acordo com especialistas.
“Existe um entendimento crescente da importância de promover um plano de transição sustentável”, afirma Renato Eid, chefe de estratégias indexadas e investimento responsável da Itaú Asset. “Por isso, tem acontecido todo esse direcionamento e essa reclassificação massiva das estratégias [verdes] para estratégias de transição. O mundo vê isso com bons olhos”, acrescenta.
Impacto europeu
Regulações da União Europeia que têm impactos sobre o Brasil também devem ser sentidas ao longo do ano pelas empresas que fazem negócios com o bloco, segundo Rysman, do BNP Paribas. Aquelas que não têm estratégias ESG bem integradas devem encontrar dificuldades para cumprir as diretrizes europeias.
Gestores que quiserem captar recursos em 2025 também deverão estar atentos às questões ESG, diz Maria Eugenia Buosi – em especial os que pretendem levantá-los com instituições financeiras em desenvolvimento.
“Essas instituições estão cada vez mais alinhadas a requisitos de sustentabilidade, tanto no que diz respeito ao compliance socioambiental quanto a melhores práticas de diversidade e inclusão e alinhamento ao Acordo de Paris”, explica a executiva.