Um golpe mortal pode atingir a agenda ESG (ambiental, social e de governança), o que significaria não só o abandono de pautas relacionadas ao tema, como também a possibilidade de adoção aberta de comportamentos considerados “antiéticos” na área de negócios. As sinalizações incluem empresas internacionais e até multinacionais brasileiras.
É o caso da BlackRock – um dos maiores grupos de investidores climáticos do mundo – que anunciou a sua saída da agenda ESG. Detalhe: a empresa foi uma das protagonistas da pauta climática em 2021. Seu próprio relatório anual mais recente indica a desaceleração: no ano fiscal de 2024, as iniciativas nessa área caíram 22% em relação a 2022. A exceção foi o G, da sigla, pois as políticas de governança foram mantidas em níveis estáveis.
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No McDonald´s, a indicação é de que a empresa estaria abandonando políticas de diversidade, na avaliação de Heiko Hosomi Spitzeck, diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral. Em artigo para a revista Época Negócios, ele analisa a situação, com os exemplos acima.
O especialista acrescenta ainda o exemplo do diretor de sustentabilidade da JBS, que ressaltou que a meta da companhia em zerar suas emissões até 2040 é apenas uma aspiração e nunca teria sido uma promessa da multinacional.
Desvalorização da agenda ESG não é unânime

Para Spitzeck, as nuvens pesadas que rondam a agenda ESG podem indicar um ajuste, inclusive em decorrência do governo de Donald Trump, no caso das empresas americanas. É sabido que o novo presidente tem posicionamentos conservadores em relação ao assunto.
Apesar disso, o diretor da FDC destaca que mais do que nunca a agenda precisa ser levada a sério, e cita que os eventos climáticos, por exemplo, são o segundo risco da lista dos top 5 do Fórum Econômico Mundial. O assunto só tem menos relevância do que as situações de guerras entre estados nacionais.
Como em qualquer cenário, a desvalorização da agenda ESG não é unânime e a brasileira Natura é um dos casos em que o compromisso é ainda mais reforçado. A empresa, recentemente, divulgou uma carta aberta na qual defende seu ponto de vista sobre o tema. O assunto ganhou destaque justamente por contrapor um momento em que grandes empresas e instituições financeiras globais recuam de suas metas relacionadas à agenda ESG e a multinacional brasileira decide reafirmar publicamente o compromisso com a sustentabilidade e os direitos humanos.
Em reportagem da revista Exame, a estratégia da empresa é detalhada, com destaque para o plano Visão 2030, que traz metas arrojadas como a de proteção da Amazônia, promoção da diversidade e inclusão, e ainda o ambicioso objetivo de emissão líquida zero.
Em um dos trechos do documento, a colocação resume o posicionamento: “nosso compromisso com a vida não aceita retrocessos”.