Pesquisa realizada pelo Google em parceria com a Box 1824, feita entre julho e outubro deste ano, aponta que grande parte dos profissionais negros empreendem porque não encontram oportunidades melhores no mercado de trabalho. A pesquisa também teve recorde de gênero e ouviu o total de 1 mil empreendedores, sendo metade negros e metade brancos.
Denominado “#CoisaDePreto: uma pesquisa sobre a real jornada dos afroempreendedores brasileiros”, o estudo mostrou que 41% dos entrevistados negros cresceram em lares onde o chefe de família tinha estudado apenas até o ensino fundamental. Enquanto isso, entre os brancos, quase a mesma proporção (38%) cresceram em lares em que o responsável pela família tinha nível superior completo ou mais.
Para a gerente de Marketing para Pequenas e Médias empresas no Google e fundadora do AfroGooglers, Christiane Silva Pinto, esse contexto demonstra como o afroempreendedorismo é fruto de um Brasil que exclui os negros do mercado de trabalho. “O afroempreendedorismo também vem da necessidade de sobrevivência”, disse ela em entrevista para a CNN.
Empreender, segundo ela, se desenha como oportunidade que a pessoa negra encontra diante de muitas dificuldades de entrar e se manter em um cargo de liderança no mercado de trabalho. “Todavia, isso não livra os empreendedores negros do racismo, pois muitos relatam muitas vezes não serem reconhecidos como donos”, destacou.
Crédito é dificuldade para o afroempreendedorismo
Iniciar o próprio negócio é um passo, o outro é mantê-lo. Para a fundadora do AfroGooglers, a pessoa negra tem mais dificuldade de manter o próprio empreendimento. “A maioria (brancos, 85%; negros, 84%) afirma que um aporte financeiro é o que mais ajudaria a superar os desafios. Porém, o sistema de crédito, todo ancorado em ‘scores’ (termo usado para indicar se a pessoa é boa pagadora), é mais cruel com as pessoas negras”, afirma Christiane Silva Pinto. “Nosso estudo confirmou essa dor com 28% dos afroempreendedores, apontando que conseguir crédito é um dos maiores desafios, enquanto apenas 21% dos brancos têm esta percepção”, acrescenta.
O estudo também revelou que, apesar das dificuldades financeiras e do impacto da pandemia nos negócios, a maioria se mantém otimista com a retomada econômica. O cômputo de 73% dos entrevistados negros e 74% dos brancos acham que os seus negócios vão crescer nos próximos meses.
Os maiores desafios dos empreendedores brasileiros, de acordo com a pesquisa, são atrair ou manter os clientes e lidar com a imprevisibilidade das vendas.
Outra realidade detectada pela pesquisa é a diferença entre os gêneros: 55% das mulheres empreendedoras não têm nenhum funcionário, mesmo que informal ou eventual, enquanto no caso dos homens, essa proporção cai para 46%.