Autores
-
Impacto positivo e legados sustentáveis
É inegável que a transformação digital e a Indústria 4.0 estão criando um novo paradigma em cadeias de suprimentos. No entanto, pouco se sabe sobre o impacto dos temas nas operações de cadeias de suprimentos sustentáveis e na performance ambiental. O estudo Transformação Digital na Cadeia de suprimentos Sustentável ouviu 615 empresas, sendo 473 questionários válidos, para tratar do tema (o artigo sobre a pesquisa pode ser acessado neste link).
Ele mostra a importância da criação de estratégias de transformação digital como impulsionadoras de desenvolvimento de relações sustentáveis com fornecedores e clientes, uma vez que um dos objetivos das empresas é fortalecer a rede de comunicação e a troca de informações com esses públicos. Essa estratégia digital favorece a cooperação com diferentes fornecedores para o desenvolvimento de produtos sustentáveis, visto que a informação se torna mais fluida e acurada, e, consequentemente, o entendimento dos padrões ambientais na cadeia de suprimentos se torna mais claro e alinhado entre os diferentes stakeholders.
Além do alinhamento com os fornecedores, o desenvolvimento de uma relação sustentável com os clientes é também suportado pela estratégia digital, pois as cadeias de suprimentos conseguem impulsionar, com o aumento do fluxo de informações, o uso de sistemas sustentáveis, aproximando clientes e os fornecedores.
Tecnologias digitais são a base
Mais do que as estratégias de transformação digital apresentadas, o estudo mostra a importância do uso de tecnologias digitais de base para impulsionar a transformação digital e a adoção de tecnologias avançadas como um resultado. Essas tecnologias de base (Internet das Coisas, Computação na nuvem, Big Data, Inteligência Artificial e Blockchain) suportam o uso de tecnologias mais avançadas, pois conseguem prover informações e dados importantes, além de ajudarem no desenvolvimento de estratégias digitais pelo mesmo motivo.
Ademais, as tecnologias avançadas, conhecidas como tecnologias de front-end (Robôs colaborativos (cobots), simulação computacional, realidade aumentada, impressão 3D), também suportam o relacionamento com fornecedores e clientes, porque conseguem simular ambientes e situações complexas, criando novas formas de se relacionamento sustentável e digital.
A adoção de impressão 3D também pode ajudar a criar produtos que utilizam menos materiais e estão mais alinhados às necessidades dos clientes sustentáveis. Isso traz novos insights para profissionais da área, que podem utilizar as tecnologias digitais para diferentes objetivos da empresa, dependendo da necessidade e da estratégia utilizada.
Além do impacto das estratégias digitais e do uso de tecnologias de front-end no relacionamento com clientes e fornecedores sustentáveis, ambos trazem efeitos positivos no processo de compras sustentáveis, o que tem se tornado cada vez mais estratégico para as empresas. Ou melhor, as empresas e as cadeias de suprimentos podem investir em estratégias digitais e na adoção de tecnologias front-end para melhorar alguns processos e práticas de compras sustentáveis.
Entre eles, destacam-se as seguintes práticas: realização de compras com base nas especificações ambientais estabelecidas pelo projeto do produto; o processo de compra é realizado com parceiros certificados ISO 14001; e o processo de compras segue os padrões de rotulagem dos produtos para minimizar o impacto ambiental. O uso de tecnologia ainda pode viabilizar a transparência, integração e visibilidade dos dados desejados de especificações ambientais, certificações ISO 14001 e rotulagem de produtos.
Digitalização e stakeholders
O estudo GSCM também mostra o impacto direto da estratégia digital, do relacionamento com clientes e fornecedores e da manufatura sustentável na performance ambiental, direcionando que as empresas devem investir em criar estratégias digitais orientadas aos resultados ambientais. Ou seja, as ações tomadas nas cadeias de suprimentos para o desenvolvimento de uma estratégia digital clara e específica, desenvolvimento de uma manufatura verde e melhorias nos relacionamentos sustentáveis e na manufatura causam impacto direto na performance ambiental da empresa.
Essa informação é essencial para tomada de decisão de algumas empresas, visto que elas podem investir tanto em aspectos estratégicos quanto operacionais para aumentar o seu desempenho. Além disso, elas podem investir tanto em aspectos internos (manufatura sustentável), quanto em aspectos externos (relacionamento sustentável com clientes e fornecedores). Por fim, as empresas e cadeias de suprimentos podem trabalhar em ações com intuito de conseguir atingir os objetivos ambientais, relacionados a Environmental, Social and Governance (ESG).
O estudo traz, de forma aplicada em uma pesquisa nacional com 473 respondentes válidos, os conceitos de Smart Supply Chain, Green Supply Chain Management (GSCM) e Smart Green Supply Chain Management (Smart GSCM) – que podem ser implementados pelas empresas e cadeias de suprimentos.
Smart e Green Supply Chain
O Smart Supply Chain é dividido em dois níveis: estratégico e tecnológico/operacional. No nível estratégico, foca-se em digitalizar tudo que é possível, criar uma rede forte de comunicação na cadeia de suprimentos, trocar informações com as cadeias de suprimentos e aprimorar a interface com os fornecedores.
Já, no nível tecnológico/operacional, está a adoção de tecnologias de base e de front-end. A digitalização foca em coletar e analisar os dados, enquanto as tecnologias de front-end focam na operacionalização das atividades.
O Green supply chain management é uma forma mais ampla de se gerir uma cadeia a partir de uma gestão ambiental, incluindo aspectos de estratégias e práticas ambientais para alcançar melhores resultados. Esse conceito envolve uma perspectiva interna de relações com fornecedores e clientes sustentáveis, manufatura sustentável, compras sustentáveis e uso de embalagens sustentáveis.
Conclusão
Smart GSCM engloba as relações entre a cadeia de suprimentos inteligente e as dimensões GSCM, reunindo-as sob uma estrutura inteligente que pode contribuir para o desempenho sustentável através da transformação digital. Ele é, portanto, um novo conceito que serve como um framework para mostrar que Smart Supply Chain suporta o desenvolvimento de uma GSCM.
Dessa forma, a transformação digital é utilizada para melhorar as práticas de uma GSCM, alavancando os resultados sustentáveis das cadeias de suprimentos.
Por fim, o estudo sobre a transformação digital como impulsionadora de cadeias de suprimentos sustentáveis mostra que, quando as empresas configuram um Smart SCM, elas podem melhorar várias métricas de desempenho verde, tais como reciclagem, redução das emissões de gases de efeito estufa e melhor uso de recursos naturais (incluindo materiais perigosos e ambientalmente prejudiciais). Isto amplia a base no desenvolvimento de relações externas sustentáveis, suportando operações internas e cadeia de suprimentos igualmente mais sustentáveis.
* Pesquisa Transformação Digital na Cadeia de suprimentos Sustentável. Equipe:
Laura V. Lerma, Organizational Engineering Group, Department of Industrial Engineering, Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
Guilherme Brittes Benitez, Industrial and Systems Engineering Graduate Program, Polytechnic School, Pontífica Universidade Católica do Paraná (PUC-PR);
Julian M. Müller, Seeburg Castle University, Seekirchen/Salzburg, Austria and Friedrich-Alexander-University Erlangen-Nürnberg, Erlangen, Germany;
Paulo Renato de Sousa, Mestrado Profissional em Administração, Fundação Dom Cabral, Belo Horizonte;
Alejandro Germán Frank, Organizational Engineering Group, Department of Industrial Engineering, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
* Paulo Renato de Sousa é professor e pesquisador nas áreas de Gestão de Operações e Logística da Fundação Dom Cabral.